Como a Trombofilia afeta a mãe e bebê

A maternidade é um sonho almejado por muitas mulheres, que desde cedo se imaginam com seus filhos nos braços. No entanto, esse caminho muitas vezes é desafiado por obstáculos dolorosos, como abortos espontâneos ou dificuldades de engravidar.

Cerca de 20 a 30% das gestações resultam em aborto espontâneo, sendo que em 15% desses casos, há ocorrência de repetição. Diversos fatores podem influenciar a saúde gestacional e entre eles a trombofilia emerge como uma condição delicada, capaz de impactar tanto a mãe quanto o bebê durante a gravidez.

É importante que mulheres que desejam engravidar ou que já estejam tentando investiguem o mais cedo possível se essa é uma condição que pode acometê-las, pois só após as perdas é que as pacientes procuram investigar e descobrem que a causa pode estar relacionada às trombofilias.

Como o tratamento das gestantes com trombofilia necessita de medicamento de altíssimo custo, fique atenta aos sinais que vamos esclarecer a seguir, inclusive sobre como conseguir o tratamento pelo SUS ou plano de saúde.

Gravidez e Trombofilia

A trombofilia é uma condição de saúde caracterizada pela maior facilidade em formar coágulos sanguíneos, aumentando o risco do indivíduo apresentar problemas como trombose venosa, embolia pulmonar ou acidente vascular cerebral (AVC). Popularmente falando, é uma tendência ao chamado “sangue grosso”, que, na prática, contribui para o entupimento de veias.

Nesse sentido, um dos fatores desencadeantes da trombofilia é a gravidez, condição que torna o sangue mais propenso a formar coágulos e que ocorre para proteger a mulher da possibilidade de hemorragia durante o parto. O risco de uma trombose ocorrer no pós parto, por exemplo, pode ser superior a 30 vezes mais na gestação.

No caso das gestantes, a trombofilia pode colocar em risco a vida da mãe e a do bebê.

Normalmente as mulheres grávidas com trombofilia têm uma gestação considerada de alto risco com demanda de um acompanhamento médico mais rigoroso, incluindo avaliações clínicas e exames de ultrassom mais frequentes, além de exames de sangue contínuos para monitorar o estado de coagulação.

Riscos da Trombofilia para a gestante e para o bebê

  • Aborto Recorrente: a trombofilia pode aumentar as chances de abortos espontâneos, especialmente se não for diagnosticada e tratada.
  • Pré-eclâmpsia: existe um maior risco de desenvolver pré-eclâmpsia, uma condição caracterizada por pressão alta e presença de proteína na urina após a 20ª semana de gestação. Isso pode ser perigoso tanto para a mãe quanto para o feto.
  • Trombose Venosa Profunda (TVP) e Embolia Pulmonar (EP): a trombofilia pode aumentar o risco de formação de coágulos sanguíneos, levando a condições graves como trombose venosa profunda ou embolia pulmonar.
  • Restrição de Crescimento Intrauterino (RCIU): pode haver restrição no crescimento do feto devido a problemas no fluxo sanguíneo uterino.
  • Parto Prematuro: a trombofilia pode aumentar o risco de parto prematuro, o que pode trazer complicações para o bebê.
  • Complicações Placentárias: a formação de coágulos pode afetar a placenta, causando complicações como descolamento prematuro, o que pode ser perigoso para o feto e a mãe.

Causas da Trombofilia

Existem duas possibilidades para a incidência desse distúrbio físico. Uma é a trombofilia hereditária, quando a condição está ligada a fatores genéticos. Outra é quando essa condição é adquirida, podendo ser desencadeada por diversos fatores que aumentam a coagulação do sangue.

  • Trombofilia hereditária: 

Condição herdada, quando há histórico familiar de trombose e predisposição à diminuição do fluxo sanguíneo, presente desde o nascimento. Esse tipo de trombofilia está caracterizado por um defeito genético em marcadores envolvidos no processo ou através da diminuição de algumas proteínas que participam da coagulação. 

O risco deste tipo de trombofilia aumenta quando a genética é associada a situações como gestação, idade avançada e outros fatores de risco.

  • Trombofilia adquirida: 

É desenvolvida ao longo da vida devido a certas condições médicas, situações específicas ou fatores adquiridos. O quadro mais comum é o da síndrome antifosfolípide, ligada à produção de um tipo de anticorpo que estimula a coagulação. Essa condição representa cerca de 60% dos casos. 

Também pode ser desencadeada por doenças autoimunes como lúpus, certos tipos de câncer, diabetes e obesidade.

Certos medicamentos, como terapia hormonal, contraceptivos orais, alguns tipos de quimioterapia e medicamentos para estimular a produção de células sanguíneas, podem aumentar o risco de coágulos sanguíneos.

Cirurgias extensas, traumatismos graves ou imobilização prolongada, como em casos de repouso na cama devido a lesões, também podem aumentar o risco de desenvolver trombofilia adquirida.

Como diagnosticar a Trombofilia?

A trombofilia é diagnosticada por meio de exame de sangue, que procura as mutações genéticas relacionadas à coagulação sanguínea. 

Estudos de imagem, como a Ultrassonografia Doppler, também são importantes para localizar coágulos, assim como a Ressonância Magnética ou Tomografia Computadorizada que são usadas em casos específicos para identificar coágulos em outras partes do corpo, como pulmões ou cérebro.

O histórico clínico levantado pelo médico também poderá dar indicações da condição.

Muitas vezes a trombofilia é assintomática, mas um dos sinais de alerta é o inchaço repentino de uma extremidade. As gestantes que têm pré-eclâmpsia antes de 34 semanas de gravidez também devem ficar atentas. Outro sinal de alerta é quando a barriga da mãe cresce pouco, já que o bebê não se desenvolve como esperado.

Tratamento da Trombofilia na gestação

O tratamento da trombofilia é feito com medicamentos anticoagulantes que “afinam o sangue” para evitar a coagulação sanguínea. 

Os medicamentos mais utilizados são a heparina (via intravenosa), heparina de baixo peso molecular (injeções abaixo da pele) e warfarina (via oral). Em caso de gestação, a heparina de baixo peso molecular é frequentemente prescrita para reduzir o risco de coágulos sanguíneos durante a gravidez, pois a substância não ultrapassa a barreira placentária e por isso não afeta o bebê. 

Cada caso deve ser avaliado de forma independente, mas de preferência, a suspensão da terapia com heparina deve ocorrer 24 horas antes da administração da anestesia epidural/raqui e retomada depois de parto por até seis semanas.

Especialistas afirmam que com o tratamento adequado e iniciado precocemente, entre 85-90% das gestantes com trombofilia conseguem ter uma gravidez sem complicações. Ainda assim, é importante destacar que mesmo com o tratamento, a gestação de mulheres com trombofilia é sempre de alto risco. Por isso, é preciso fazer um pré-natal rigoroso, acompanhando bem de perto a saúde da mãe e do bebê.

Apesar da importância do tratamento na vida de mulheres que desejam ser mães, muitas delas não conseguem acesso ao medicamento de alto custo. Pela necessidade de ser aplicado durante toda gestação e puerpério, o tratamento se torna inviável para boa parte da população.

Atualmente, o SUS oferece a Enoxaparina Sódica às gestantes portadoras de trombofilia, o problema é que há uma escassez na distribuição do produto. Por esta razão, muitas pacientes precisam solicitar o medicamento via judicial.

Já os planos de saúde constantemente negam os pedidos pelo custeio do tratamento, além de negarem ou dificultarem a realização de exames constantes e necessário no acompanhamento rigoroso da condição em gestantes. Nesses casos também cabe à paciente procurar por via judicial o cumprimento de seus direitos. 

Devido à gravidade da trombofilia para a saúde do bebê e da mãe, é altamente recomendado contar com a ajuda de advogados especializados em ações de Direito à Saúde.

Eles possuem expertise para preparar o caso de maneira mais assertiva possível, além de terem conhecimento aprofundado para acelerar o resultado e obter vitória diante dos argumentos do SUS ou do plano de saúde.

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