Identificando os Sinais Iniciais: Como Descobrir a Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla é uma doença de difícil diagnóstico. Com uma variedade extensa de sintomas iniciais, com intensidades leves, que podem ir e vir, o diagnóstico pode demorar anos a partir dos primeiros sinais. É comum que os pacientes apresentem um sintoma e, em seguida, meses ou anos depois tenham um completamente diferente, não percebendo que os dois estão relacionados. 

Assim, o paciente não dá a devida importância aos indícios, pois não imagina que está doente. 

De acordo com o neurologista, especialista em esclerose múltipla, doutor Dagoberto Callegaro:

“A pessoa pode passar dois ou três anos apresentando pequenos sintomas sensitivos, pequenas turvações da visão ou pequenas alterações no controle da urina, sem dar importância a esses sinais, porque em três ou quatro dias eles desaparecem e acabam sendo atribuídos ao mau posicionamento do corpo durante o sono ou a um cisco que entrou no olho e turvou a visão, por exemplo. As coisas vão caminhando assim até que apareça um sintoma de maior magnitude representado por fraqueza importante numa perna ou por perda visual prolongada. Só então um médico é procurado”.

Como o diagnóstico precoce é fundamental no controle de novos sintomas, diminuindo as chances de que novas manifestações se desenvolvam, entender os sinais iniciais comuns da EM deve ser do conhecimento de todos, podendo ajudar pessoas a serem diagnosticadas e tratadas mais rapidamente.

Entendendo a Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla é uma condição autoimune que causa dificuldades motoras e sensitivas capazes de comprometer muito a qualidade de vida dos pacientes. Potencialmente incapacitante do cérebro e do sistema nervoso central, a doença inflamatória crônica dificulta a comunicação entre cérebro, medula e corpo. 

Segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem), ela atinge geralmente jovens, em especial mulheres entre 20 e 40 anos. Também é mais comum em pessoas de pele branca. As causas ainda não são totalmente conhecidas pela ciência, mas praticamente, 85% a 95% dos casos iniciam-se por uma inflamação.

Apesar de não ter cura, os tratamentos podem ajudar a retardar a progressão da EM, incluindo terapias modificadoras da doença que ajudam a reduzir crises, reabilitação física e apoio à saúde mental.

Primeiros sinais da Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla é uma doença que afeta diferentes partes do sistema nervoso, portanto, existem sintomas que variam de acordo com cada caso clínico.

Os primeiros sintomas são sutis, como visão levemente turva. Outros sintomas comuns são pequenos tremores e visão dupla, que pode fazer o paciente olhar um objeto e enxergar dois. Os sinais podem ser divididos entre os sensoriais e os motores, como por exemplo:

  • Distúrbios sensoriais: dormência, muitas vezes no rosto, ou formigamentos pelo corpo; sensação de choque elétrico quando se move a cabeça ou pescoço (sinal de lhermite); sensação de aperto no peito ou no tronco; intolerância ao calor (agravamento temporário dos sintomas em condições de calor).
  • Distúrbios motores: perda de sensibilidade nos membros inferiores ou de um lado do corpo; fraqueza (dificuldade para escrever ou para correr); dificuldades de controle urinário e intestinal; piora na coordenação; problemas para manter o equilíbrio;
  • Outros: vertigem, problemas para pensar com clareza; dor; depressão.

É importante ressaltar, que na presença de alguns destes sinais, durante 24 horas ou mais, sem uma causa aparente, deve-se procurar um médico. Apesar do primeiro surto não deixar sequelas relevantes, a doença pode estar se instalando em áreas mais silenciosas, que representam janelas de oportunidades importantes para evitar a progressão da doença.

Diagnóstico e tratamento 

Os médicos se baseiam em testes clínicos e de imagem para detectar a doença. A identificação da EM pode ser feita inicialmente por meio de uma avaliação clínica, onde o médico pesquisa os históricos familiares do paciente, os hábitos de vida, antecedentes médicos, além da sintomatologia e da realização do exame físico.

Mas hoje, é possível identificar a EM logo no começo através do exame de Ressonância Magnética do Neuroeixo. Através dele, é possível identificar a localização da inflamação e o que ela causa de sintomas. 

A característica de distribuição dessas lesões permite que o especialista já comece a pensar na Esclerose Múltipla. Outros exames também são capazes de indicar a doença, como exames hematológicos e do líquido cefalorraquidiano que envolve todo o cérebro.

Depois de identificada, é necessário escolher a terapêutica específica para o paciente que é diagnosticado com a Esclerose Múltipla. Existem dois tipos de tratamento da doença, que dependem da quantidade de lesões, baixa ou alta. A diferenciação dos grupos é importante, porque cada um recebe um tipo diferente de medicação, em caso de poucas lesões, mais fraca e em caso de pacientes com maior número de lesões, mais potente. 

Juntamente com os medicamentos que combatem a inflamação, é preciso complementar com o tratamento de outros profissionais, como fisioterapeutas e psicólogos. 

A recomendação é buscar fisioterapia para ampliar os movimentos, dando ênfase aos músculos que estão mais conservados.

Todas essas formas de tratamento podem ser altamente custosas para o paciente com EM, que têm o direito de buscar a cobertura medicamentosa e complementar junto ao plano de saúde ou ao SUS. Em caso de negativas, é possível recorrer à Justiça através de advogados especialistas em Direito à Saúde.

É importante lembrar que, por se tratar de uma doença remitente-recorrente, o objetivo da medicação é reduzir o risco de um novo surto, aumentando o intervalo entre um sintoma e outro, apenas espaçando os episódios ou reduzindo a intensidade dos surtos.

Converse com seu médico sobre seus sintomas

Qualquer sintoma neurológico em jovens precisa ser observado e tratado com seriedade. Se você tiver alguma desconfiança, é uma boa ideia consultar seu médico, que pode fazer perguntas e realizar os testes necessários.

E lembre-se que cultivar hábitos de vida saudáveis pode ajudar a prevenir o desenvolvimento da Esclerose Múltipla, assim como de diversas outras doenças. Carência de vitamina D, tabagismo, alimentação rica em industrializados são alguns fatores de riscos que podem contribuir com as inflamações características.

A Esclerose Múltipla pode parecer assustadora, mas encarar os sintomas de frente e buscar um diagnóstico no início pode fazer toda a diferença. Quando os tratamentos necessários são iniciados rapidamente, é possível que os pacientes tenham uma vida totalmente normal.